segunda-feira, 30 de julho de 2007

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Istvàn Szabó



Quem não se lembra de Klaus Maria Brandauer no papel do ator devorado pela ambição em Mephisto? Atrás da câmera comandando o ator estava o húngaro István Szabó que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (1981) e com Mephisto impressionou o público no mundo inteiro. O veterano e premiadíssimo diretor (mais de 60 prêmios entre Cannes, Locarno e Oberhausen) que nasceu em Budapeste em 1938 e nunca abandonou suas raízes, está lançando mundialmente seu segundo filme falado em inglês, Sunshine. O filme traça a trajetória centenária da família húngara e judia Sonnenschein, durante 3 grandes períodos da história européia até o desfecho Comunista no pós-guerra. Com um roteiro inical de 500 páginas e um projeto de vida nas mãos, Szabó escolheu para o persongem principal de seu épico, o fleumático Ralph Fiennes que participa com três papéis fundamentais. "Queria mostrar como o mundo está afundando como o Titanic" afirma Szabó, justificando as mudanças visuais no filme impostas pela realidade histórica que vai da luxúria do século 19 ao desconforto nazista e à rudeza comunista. Nesta entrevista, Szabó fala de como gosta de realizar curta-metragens para experimentar novas formas, como Sunshine nasceu de seus outros filmes, e como trabalhou com perfeccionismo nos cenários, figurinos, linguagens, apesar de cultuar a simplicidade, para retratar orgulhosamente um pouco de sua própria história familiar. (Francesca Azzi).

indieWIRE - O seu trabalho como diretor começou há 40 anos atrás. Como começou a fazer filmes na Hungria?

István Szabó - Terminei a faculdade e como todo mundo que trabalhava com cinema na Hungria, me tornei diretor assistente e trabalhei com vários diretores diferentes. Enquanto fui assistente fiz alguns curtas-metragens que até fizeram sucesso (The Concert foi indicado para o Oscar de Melhor Curta em 1963). Assim tive a chance de fazer meu primeiro longa The Age of Daydreaming quando tinha 25 anos. Desde então, tenho feito longas, mas também curtas porque gosto muito deles.

iW - Por quê?

Szabó - Porque posso tentar formas diferentes. É uma pesquisa para mim. Durante um longo período, talvez 20 anos, a cada longa-metragem eu fazia um curta para encontrar alguma coisa nova. Como fazer algo sem a grande responsabilidade de milhões e milhões de dólares? Com o curta é assim: você tem pouco dinheiro, uma pequena câmera, então pode tentar algo diferente.

iW - Houve algum projeto menor que você usou para se preparar para Sunshine?Szabó - Acho que fiz alguns longas que talvez sejam a raiz para Sunshine. Para a visão pessoal, Father (1966), para a matéria política, Mephisto (1981) e Coronel Redl (1985) e para a história de amor, Confidence (1979).

iW - Você acha que este filme poderia ter sido feito há 20 anos atrás?
Szabó - Não. Há 20 anos atrás, eu não tinha a mínima idéia de como contar uma história. Há 20 anos atrás, eu tinha um desejo, como todo diretor de cinema. O desejo de mostrar alguma coisa muito única e especial. O "diretor Szabó" era importante para mim. Hoje acho que não estou interessado na audiência. A história é interessante e os atores representando minha história também. Hoje não quero mais achar um ângulo especial que corresponda a uma idéia pessoal. Meu desejo é o de encontrar um ângulo que seja claro e o melhor para os atores para que eles possam mostrar do que são capazes. Dar todas as possibilidades aos atores. Um filme claro. O meu desejo hoje é de alcançar a simplicidade. Talvez isto seja a coisa mais difícil porque temos que ser claros, compreensíveis e poderosos. Simplicidade é a única coisa.

iW - Mas no filme, você conta três histórias totalmente diferentes visualmente.

Szabó - Não acho que elas sejam diferentes visualmente. Do meu ponto de vista, são diferentes porque as épocas também o são. Queria mostrar como o mundo está afundando como o Titanic. Então o início da história, final do século 19 até a Primeira Guerra, é uma época de ouro para a Europa Central. Mostramos um mundo rico, bonito como no Café ou na casa ou com as roupas bonitas. Uma colher ou um copo de água era maravilhosamente bem feito. Aos poucos, ao final dos anos 20 e 30, quando pessoas vulgares tomaram o poder- os nazistas e fascistas – o gosto vai a baixo e mostro como tudo ficou. Depois temos a Segunda Guerra que queimou e arruinou com tudo. Chegamos assim ao período comunista com um gosto ainda pior, é mais frio e sujo ainda. Então temos o mesmo Café do início que mudou de um espaço público maravilhoso para um restaurante self-service pobre e estúpido. Queríamos mostrar isto. Por isso é visualmente diferente. Não é nossa visão que é diferente mas sim a realidade.

iW - Você poderia falar sobre esta mistura entre pano de fundo político e histórias pessoais e conflitos? Este balanço prevalece em muito de seus filmes.

Szabó - Acho que o pano de fundo é uma importante parte da história. A história familiar significa o estar e o ser aceito na sociedade, como assimilar. Há uma conexão entre as partes; elas comem uma a outra, fazem amor uma com a outra, filosoficamente falando. Do primeiro personagem, o juiz do império Austro-Húngaro, ao terceiro homem, o policial, a linguagem muda. Minha idéia no começo do filme era que a linguagem fosse literária, eles usariam palavras finas, linhas românticas, eles saberiam o que é a literatura. A segunda história é mais exata, menos rica. E a terceira é vulgar. Mesmo as pessoas em altas posições usaram palavras vulgares. A história, então, através desses três degraus mostraria em cada nível possível – no cenário, figurino, na linguagem, palavras, mentalidade, nas relações (no início há uma conexão entre as pessoas, já na terceira história está todo mundo separado e apenas usando uns aos outros) como o Titanic afundou.

iW - O nacionalismo parece uma força destrutiva no filme. Você concorda?

Szabó - Sim. Eu separo patriotismo de nacionalismo que significa, para mim, estar cheio de ódio por todo o mundo. Já o patriotismo significa amar todo mundo e o seu lugar no mundo. Sou patriota e contra os nacionalistas.

iW - O final oferece alguma esperança. Mas percebo que você tem uma afeição muito forte pelo passado. Você realmente acredita que há esperança em nosso novo século?

Szabo - Acho que se você tiver a coragem de ser você mesmo, se não tiver a doença de agradar à todo mundo, será capaz de cortar sua raízes. Se conseguir ser você mesmo, então há uma esperança.

iW - Você tem alguma memória de infância do partido fascista no poder?

Szabó - Não. Eu nasci em 1938 e tinha apenas 6 anos no final da Segunda Guerra Mundial. Não tenho lembrança nenhuma. iW >> Você conta a história do período através de muitos detalhes. Tudo isto veio de uma fantasia pura ou você fez muita pesquisa, conversando com membros da família etc? Szabó >> Eu gastei 40 anos. Todas as histórias que eu ouvia em volta da mesa da época dos meus avós e amigos eu tentei colocar no filme.


Por: Anthony Kaufman

Tradução: Francesca Azzi
Interview tem o apoio de http://www.indiewire.com/http://www.indiewire.com/

terça-feira, 3 de julho de 2007